Novos materiais são
bem-vindos em diversos setores muito competitivos, por exemplo, o da
construção. Compósitos que empregam madeira tratada, além de inovadores,
oferecem excelente desempenho e uma boa resposta ao desafio da reciclagem de
resíduos sólidos.
Denominam-se
compósitos materiais que resultam da mistura de dois outros, produzindo um
terceiro que apresenta características e desempenho muitas vezes diversos e, ao
mesmo tempo, avançados em relação àqueles que foram empregados na sua produção.
Reúnem-se dois produtos, combinando características físico-químicas diferentes
para obter um novo e muitas vezes com propriedades únicas, que resultam da
associação das próprias características dos seus constituintes. Na contramão
dos compósitos, hoje em dia muito se fala em materiais cerâmicos, plásticos ou
de concreto, entre outros, que imitam madeira. A associação é puramente
estética e/ou mercadológica. Estética, porque a textura e a aparência da
madeira natural são atrativos sem comparação nos mercados da construção e do
mobiliário em qualquer parte do mundo. São também mercadológicas, porque
invariavelmente vêm associadas a noções ambientalmente incorretas que têm o
intuito de convencer o consumidor mal informado de que o uso de madeira destrói
as florestas.
Na verdade,
muitos dos materiais apresentados pelos seus fabricantes como salvadores das
matas resultam de extrativismo, não são sustentáveis. Eles, sim, são capazes de
afetar o clima e a saúde do planeta. Diferente da madeira que, colhida em
florestas plantadas ou certificadas e depois tratada, é material 100% renovável
e que produz grandes estoques de carbono contribuindo para minimizar o
aquecimento global e a pressão sobre espécies nativas. Não se encontram estas
qualidades reunidas em outros materiais construtivos. Por isso, o mais lógico é
que se utilize madeira, especialmente a que passou pelo tratamento industrial,
em associação com outros produtos que agregarão vantagens aos compósitos,
deixando para trás as limitações técnicas e estéticas das imitações.
Além de agregar
novas propriedades, materiais compósitos também podem gerar custos
intermediários ou até menores do que o daqueles que o geraram. Contribuem
também para o reaproveitamento de resíduos sólidos como os de madeira tratada
em desuso e, igualmente, de outros materiais industriais. Atualmente pesquisas
estão sendo conduzidas no campo dos materiais compósitos, onde se busca a
melhor associação entre a madeira tratada em combinação com o cimento ou
resinas. Estes novos materiais ganham leveza, flexibilidade e resistência. O
fato da madeira ser tratada, eleva a durabilidade do compósito devido a sua
imunidade ao ataque de cupins, brocas e fungos.
De acordo com
dados apresentados pela ALMACO – Associação Latino- Americana de Materiais
Compósitos, 48% dos compósitos produzidos no Brasil em 2011 foram destinados à
construção civil, deixando este segmento de mercado na posição de liderança
entre os demais setores (transporte, saneamento, energia elétrica, náutico e
petróleo). O espaço para a introdução de compósitos elaborados com madeira
tratada é muito grande. Porém as associações entre matérias serão cada vez mais
bem-vindas no setor pelo potencial que representa em termos de soluções
tecnicamente adequadas e ambientalmente corretas. Programas públicos como o
minha Casa Minha Vida, Luz para Todos e as obras necessárias para expansão da
malha nacional de transportes representam oportunidade para a aplicação destes
materiais.
Materiais
compósitos com resíduos de madeira tratada incorporam leveza, flexibilidade e
durabilidade ao conjunto além, claro, do incomparável aspecto estético e de
textura. Material de madeira tratada e resinas adesivas, por exemplo, pode
gerar um novo produto capaz de suportar condições de temperatura elevada,
combinadas com umidade e acidez, uma vez que madeira não deforma sob calor e o
composto não sofre corrosão. Um exemplo deste tipo de emprego do compósito pode
ser visto no local de visitação ao famoso gêiser Old Faithful, no Parque
Nacional de Yellowstone,
no estado do Wyoming,
Estados Unidos. Outra boa possibilidade seria empregá-los em obras como a do
Rodoanel paulista, a exemplo de outras grandes malhas viárias próximas a áreas
urbanas, onde é necessário o isolamento, para o conforto acústico dos moradores
do entorno. Além de possibilitar o uso de painéis compósitos, visualmente
seriam muito mais agradáveis, agregando leveza e eficiência ao conjunto
arquitetônico.
Jackson M. Vidal - Químico pesquisador da Montana Química.